Campo Grande-MS
segunda-feira, 2/12/2024

Pesquisa do jornalista Sergio Cruz, da Academia Sul-Matogrossense de Letras e do IHGMS

Forças policiais e mercenários, a serviço do governador Antonio Pedro Alves de Barros, no governo por imposição de Totó Paes, novo aliado dos irmãos Murtinho, invadem a redação do jornal oposicionista Vinte de Agosto, que circulava em Corumbá, empastelam sua tipografia e são acusados de roubar importância em dinheiro. A versão disponível do ataque ao órgão de imprensa corumbaense, é do próprio redator do jornal, Manuel José Brandão, em carta publicada pelo Jornal do Brasil (RJ):

Pelas colunas do vosso conceituado jornal vos dignastes publicar, mediante minhas informações, o que, em Corumbá ocorreu com minha pessoa, família e bens, desde 9 de novembro do ano findo. 
Dessas informações consta, convém repetir resumidamente, que o capitão reformado do exército Raimundo Por Deus, comandante do batalhão patriota, com vários de seus comandados, o subdelegado de polícia em exercício, Manuel Benedito de Campos, com praças de polícia, vários empregados da alfândega e mais outros indivíduos assaltaram às 4 horas da manhã desse dia 9 de novembro, as duas casa, sendo uma onde funcionavam as oficinas do Vinte de Agosto, de minha propriedade, e a outra onde era o escritório da redação e direção da citada folha: arrombaram as portas, danificaram os prelos, inutilizaram o respectivo material e arrombaram a gaveta de uma mesa que se achava no escritório, da qual roubaram dois pacotes que continham 7:286$00 em notas de curso legal na República; que às 5 horas da tarde do citado dia 8, Por Deus entrou na sala de visitas da casa de minha residência para assassinar-me; que na noite de 12, o tenente José Emídio de Campos, comandante do destacamento de polícia, mandou retirar de casa de minha família as três praças que ali estavam para minha garantia, porque vinham atacar a casa para praticar o massacre que não lograram praticar, porque quando o grupo atacante, constante de uns cinquenta indivíduos – patriotas e policiais – chegou à minha casa, não encontrou pessoa alguma, porque, com toda a família me retirei pelos fundos do quintal e fui recolher-me à casa de uma família boliviana e na farmácia de um italiano; que não tendo querido as autoridades federais garantir-me, tive de abandonar tudo que me restava e a 3 de dezembro, encetar viagem para esta capital, onde aportei a 1 de janeiro deste ano. 
FONTE: Jornal do Brasil (RJ), 10 de novembro de 1902.