Campo Grande-MS
quinta-feira, 5/06/2025

Pesquisa do jornalista Sergio Cruz, da ASL e do IHGMS

A força expedicionária brasileira, em retirada da fazenda Laguna, no norte do Paraguai,chega a Nioaque, em 3 de junho de 1867 . O povoado havia sido abandonado dois dias antes pela defesa brasileira, receosa de um ataque inimigo e ocupada pela cavalaria paraguaia, que durante toda a marcha, vanguardeou os retirantes:


Esta bonita povoação, abandonada, ocupada e pela segunda vez, desde o início da guerra, devastada, convertera-se num montão de destroços fumegantes. O grande galpão que outrora nos servira de armazém de mantimentos e ainda achamos de pé, sobre os esteios incendiados, mostrava renques de sacos que nossa gente, sem dúvida, não tivera tempo de carregar e já serviam de pasto ao incêndio. O arroz e a farinha carbonizados, exteriormente; o sal, gênero esse tão escasso e precioso no interior do país, negrejara e fundia sob as nossas vistas.

Aqui e acolá jaziam muitos cadáveres, todos de brasileiros. Constatamos que muitos desses infelizes mortos haviam servido em nossas fileiras. Desertando por ocasião do exacerbamento de nossas misérias, e morrendo de fome pelas matas, haviam se apressado, embora correndo o perigo de serem reconhecidos, em tomar parte do saque.


Fora um deles, de pés e mãos amarrados, sangrado como um porco. Jazia outro, crivado de feridas, e uma velha estirada a seu lado, de goela aberta e seios decepados, nadava no próprio sangue.


Foi quase toda a coluna acampar por esta noite atrás da igreja, sobre o grande terrapleno que descrevemos e onde, escalonados com os canhões nos ângulos, para maior segurança contra o inimigo, nos apoiávamos à mata do rio. Ali, gozamos, enfim, um pouco de verdadeiro descanso. Dupla e tripla ração se distribuiu; permitiam-no as circunstâncias; sentia-se o comandante feliz por contentar os soldados, quanto possível. Pela primeira vez e desde muito, podíamos contar com o dia de amanhã. Restavam-nos, apenas, para nos por fora de qualquer perigo eventual, fazer quinze léguas, a caminhar por excelente estrada, de Nioac ao Aquidauana, onde éramos esperados. E para tal marcha tínhamos víveres sobejos.



FONTE: Taunay, A retirada da Laguna, 14a. edição, Edições Melhoramentos, S. Paulo, 1942, página 134.

LIVRO GRÁTIS

HISTORIA DA FUNDAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL, de Sergio Cruz.

Promoção cultural deste site, de incentivo ao conhecimento de nossa História. Um flipbook, totalmente gratuito. Tempo limitado. CLIQUE AQUI e saiba como baixar o seu exemplar.