A independência de Mato Grosso, proclamada por militares de Corumbá e Cuiabá, ganha espaços em jornais londrinos, entre eles o Times, que em sua edição desta data, publica duas notas sobre o episódio. A primeira, um telegrama procedente de Buenos Aires:
A República Transatlântica, como agora se denomina o Estado de Mato Grosso, estabeleceu um governo independente, tomando o coronel Barbosa o comando em chefe das forças de terra e fluviais. Além de muitos fortes bem armados, o coronel Barbosa tem 1.200 homens de tropa e uma flotilha fluvial; e ele tomou posse do Arsenal de Ladário. A nova República hasteou uma bandeira verde-carregado com uma estrela amarela ao centro.
A segunda, o seguinte editorial:
A notícia que recebemos esta manhã de que a Legislatura de Mato Grosso, uma das antigas províncias do Império do Brasil, agora incorporada aos Estados Unidos do Brasil, proclamou a independência completa de seu território, e anunciou a sua separação da União, causará pequena surpresa a todos aqueles que, nos últimos tempos, têm lido com atenção os telegramas da América do Sul. No Brasil, como na República Argentina, os limites respectivos dos direitos dos governos central e provincial constituirão sempre a questão mais ardente de política popular. Mesmo no tempo do império a inveja entre as duas autoridades já era fonte e foi simplesmente natural que a revolução de novembro de 1889, a queda do vitorioso ditador Fonseca dois anos mais tarde e a série de grandes mudanças sociais, econômicas e que produzirão e se seguirão aqueles acontecimentos, deram novo impulso ao movimento em prol dos “Direitos do Estado”. Mato Grosso que um simples olhar ao mapa mostrará, é uma vasta província interior, afastada da capital, inacessível por mar e limite a leste com a fronteira da Bolívia. Pode ter bem poucos interesses em comum com as províncias do Atlântico, das quais está separada por muitas centenas de milhas de territórios incultos, e agora que o velho respeito tradicional pela Casa de Bragança foi desperdiçado, não há razão aparente para que ele tenha interesse em permanecer como parte congerie ingovernável de estados, sobre negócios dos quais ele nunca poderá esperar exercer nenhuma influência importante. É de presumir que o Brasil seja constrangido a declarar guerra contra os rebeldes e que venha mesmo a fazer um esforço decidido para chamá-los à obediência.
Qual o exito que advirá à semelhante tentativa e quais os benefícios que poderão provir para o Brasil se ele sair vencedor e subjugar mais uma vez os seus cidadãos revoltados, – é outra coisa. Mas é claro que, se os habitantes de Mato Grosso estão resolutos, gozam de vantagens de posição que podem tornar a invasão e a redução do seu território, tarefa árdua para um governo que deve a sua própria origem a uma revolução recente e que não está ele próprio muito solidamente firmado.
FONTE: Jornal do Commercio (RJ) 7 de maio de 1892.