Campo Grande-MS
domingo, 11/05/2025

Pesquisa do jornalista Sergio Cruz, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul

Filho de João Wenceslau Leite de Barros e Alice Pompeu Leite de Barros, nasce em Cuiabá, Manoel de Barros. Ainda criança mudou-se para o Pantanal da Nhecolândia, no município de Corumbá, onde foi alfabetizado por sua tia Rosa Pompeu de Campos. Fez seus estudos primários em Campo Grande no Colégio Municipal, dirigido pelo professor João Tessitore Júnior, onde foi aluno da professora Olívia Enciso. Fez o curso secundário no Rio, onde segundo ele, despertou para a poesia, depois de ler Antonio Vieira.

Em 1934 iniciou o curso de Direito. Concluiu o curso mas nunca advogou. Seu primeiro livro foi “Poemas concebidos sem pecado”, de 1937, com tiragem de 20 volumes. Em 1942 publicou “Face imóvel” e em 1956, “Poesias”, pela Editora Pongetti. Ganhou em 1960 o Prêmio Orlando Dantas, patrocinado pelo jornal Diário de Notícias do Rio de Janeiro, com o livro “Compêndio para uso dos pássaros”. Em 1965 vence o prêmio nacional de poesia da Fundação Cultural do Distrito Federal, e com o dinheiro editou em 1969, a sua “Gramática expositiva do chão”.

“Matéria de poesia”, segundo ele, foi o livro mais elogiado de sua obra. Em 1982 lançou “Arranjos para assobio”, pela Editora Civilização Brasileira. Em 1985 saiu “Pré-coisas”, seguido pelo “O guardador de águas” (1989), “Concerto a céu aberto para solos de aves” (1991) e “O livro das ignorâncias”.

Assim Manoel de Barros se define:

Minha poesia é uma reflexão permanente. A palavra me atinge de tal modo, que a língua passa a inventar coisas. Nunca escrevi uma palavra que não tenha roçado no meu corpo. Minha poesia é marcada por um constante morrer e renascer. Essa permanente metamorfose está presente em toda a minha obra. Acho que é importante para qualquer poeta reviçar as coisas. Descobri, por exemplo, que uma palavra arcaica tem o poder de dar viço novo a qualquer outra já gasta. É por isso que gosto de ler os clássicos quinhentistas. A partir da palavra aprendo a inventar. Ela é o fio condutor que nos faz penetrar em nossos ancestrais.¹

Sobre a poesia de Manoel de Barros, Carlos Drumond de Andrade, que chegou a considerá-lo “maior poeta brasileiro vivo”, escreveu em 3 de novembro de 1942:

“Meu caro Manoel de Barros: Li Face Imóvel em alguns minutos. Depressa e com emoção. Penso que você , através desse livro rápido e imperfeito, mostrou possuir os elementos essenciais de uma poesia cheia de humanidade e pungente lirismo. Não lhe dou conselhos nem me sinto autorizado a dá-los (de resto, nada valem). Mas acredito que quem escreveu esses poemas tem muita coisa a dizer de si mesmo com o mundo. Guardei aquele “como rosa em peito de suicida” e aquela “luz da Lâmpada na moringa” como sinais, entre outros, de uma expressão poética rica de dramaticidade e sentimento das relações secretas entre as coisas. Com um grande interesse pelo desenvolvimento de sua poesia (interesse que é simpatia amiga), e grato ainda às boas palavras que me dedicou, abraço-o cordialmente”.²

Manoel de Barros faleceu em 13 de novembro de 2014, em Campo Grande.


FONTE: ¹Maria da Glória Sá Rosa e outras, Memória da arte em Mato Grosso do Sul, UFMS/CECITEC, Campo Grande, 1992,página 45. ²Bosco Martins, Diálos do Ócio, Editora de Los Bugres, Campo Grande, 2023, p. 259.

FOTO: estátua desenhada e esculpida por Victor Henrique Woitschach (Ique).